COMEMORAÇÕES DOS 50 ANOS
DO 25 DE ABRIL
EDITORIAL DO PROGRAMA
Comemorar Abril é uma oportunidade de afirmar os valores da liberdade e de valorizar o caminho de aprofundamento da democracia participativa.
Participar nas comemorações do 25 de Abril é uma oportunidade para revelar a importância nas nossas vidas das profundas transformações ocorridas na sociedade portuguesa com a Revolução de Abril de 1974.
O golpe militar que depôs o Estado Novo iniciou uma revolução política, social, jurídica e institucional que culminaria na aprovação da Constituição da República Portuguesa em 1976.
Essa Constituição inicial formatou a atual III República portuguesa e, pela primeira vez, assegurou ao nosso povo um regime, como diz o texto constitucional, “baseado na dignidade da pessoa humana e na vontade popular”, num “Estado democrático, baseado na soberania popular”, com garantias de pluralismo e tolerância, liberdade de opinião, de imprensa, sindical, com separação dos poderes executivo, legislativo e judicial, sem discriminações partidárias ou de género.
O voto verdadeiramente universal foi, finalmente, instituído.
O Poder Local passou, efetivamente, a representar as populações que, finalmente, passaram a eleger os seus autarcas em processos livres, democráticos e justos.
Setúbal, muitas das suas personalidades, dos seus homens e mulheres de cultura, dos seus militares, dos seus artistas, dos seus trabalhadores, dos seus empresários, sofreram, resistiram ou lutaram com e contra a ditadura e pugnaram, participaram e ajudaram a construir a democracia portuguesa.
Um dos símbolos desse dia que iniciou a Revolução dos Cravos, como ficou para sempre batizada, é o cantor José Afonso, um artista que adotou Setúbal, onde viveu, antes e depois do 25 de Abril, e onde foi sepultado após a sua morte, a 23 de fevereiro de 1987, numa cerimónia fúnebre que emocionou o concelho, bem como todo o país, e mobilizou dezenas de milhar de pessoas.
O autor de “Grândola Vila Morena”, senha musical utilizada para iniciar o arranque da operação militar revolucionária, junta a esse facto, diretamente ligado aos acontecimentos de 25 de Abril de 1974, uma obra notável na música popular portuguesa, para muitos estudiosos a mais importante produção na história fonográfica nacional, e um posicionamento cívico que sintetiza na sua personalidade alguns dos valores fundacionais da democracia em Portugal: liberdade, ativismo cívico, participação dos cidadãos na vida pública, arte com raízes culturais na criação tradicional dos povos, antifascismo.
Setúbal associa a celebração do cinquentenário da Revolução dos Cravos à figura de José Afonso e por isso celebra Abril com o lema “Venham Mais Vinte e Cincos”, glosando assim uma das composições mais famosas do cantautor, a canção “Venham Mais Cinco”, escolha inicial do Movimento das Forças Armadas para servir de senha à revolução, mas que acabou por ser substituída pela “Grândola” por a sua passagem estar proibida na Rádio Renascença, onde a senha tinha de ser transmitida.
Ao celebrar os 50 anos da Revolução dos Cravos, reafirmamos as palavras da senha cantada por José Afonso e declaramos que todas as terras devem ser “terras da fraternidade” e que também em Setúbal “o povo é quem mais ordena, dentro de ti, ó cidade”.
O programa das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril é orientado por uma Comissão de Honra constituída por um conjunto de personalidades da sociedade setubalense que se identificam com os valores de Abril. A esta comissão cabe, a cada passo, definir os caminhos a percorrer e mobilizar os cidadãos para a participação nos eventos que venham a ser programados ao longo destes quatro anos (2022 – 2025), afirmando a importância de comemorarmos os 50 anos da revolução que nos trouxe a liberdade e a democracia.
Viva o 25 de Abril!
André Martins
